Num domingo de calor

Num domingo de calor

Benedita Fernandes, abnegada fundadora da Associação das Senhoras Cristãs, de Araçatuba, no Estado de São Paulo, foi convidada para uma reunião de damas consagradas à caridade, para exame de vários problemas ligados a obras de assistência.

E porque se dedicava, particularmente, aos obsidiados e doentes mentais, não pode se esquivar.

Entretanto, a presença da conhecida missionária fazia espécie.

O domingo era de imenso calor e Benedita ostentava compacto manto de lã, apenas compreensível em tempo de frio.

Mania, cochichava alguém, à pequena distância.

De tanto lidar com malucos, a pobre espírita enlouqueceu – dizia elegante senhora à companheira da poltrona, em tom confidencial.

Isso é pura vaidade – falou outra. – Ela quer ser diferente. – Caso de obsessão – certa amiga lembrou, em voz baixa.

Benedita, porém, opinava nos temas propostos, cheia de compreensão e amor.

Em meio aos trabalhos, contudo, por notar agitações na assembleia, a presidente alegou que Benedita suava por todos os poros e, em razão disso, rogou-lhe, por gentileza, que tirasse o casaco.

Benedita Fernandes, embora constrangida, obedeceu com humildade e só aí as damas presentes puderam ver que a mulher admirável que, em Araçatuba, atendia dezenas de enfermos, com suor do próprio rosto, envergava singelo vestido de chitão com remendos enormes.

 

Hilário Silva

 

Psicografia de Francisco Cândido Xavier em 27 de julho de 1963, em Uberaba. Foi publicada no Anuário Espírita 1964; transcrita nos livros: Ideias e Ilustrações (Francisco Cândido Xavier) e Benedita Fernandes. A dama da caridade (Antonio Cesar Perri de Carvalho).