Dia dos “mortos” e túmulos

Dia dos “mortos” e túmulos

    

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há pouco tempo, estivemos rapidamente no Cemitério de Araçatuba para verificação da situação de túmulos de familiares.

No trajeto vimos muitas placas e fotos de personalidades que conhecemos e passamos pelo túmulo de Benedita Fernandes, vulto pioneiro espírita da cidade, desencarnada aos 09/10/1947. Além de bem conservado, chamou-nos atenção uma placa acrescentada com os dizeres: “Da Benedita – agradeço a uma graça recebida. 19/02/2012. JLP”.

Sem conhecer o fato ali sumariamente registrado, muitos tem conhecimento, nós inclusive, da intensa atuação espiritual de Benedita Fernandes.

Em termos de frases em túmulos, a marcante e sintetizadora de princípios espíritas, está registrada no dolmen de Allan Kardec, no histórico Cemitério Père Lachaise, em Paris: “Nascer, morrer, renascer novamente e progredir sem cessar é a lei”.

Nessa época, ocorre o cultivo do dia de Finados. A literatura espírita é muito rica de informações sobre as comemorações relacionadas com o chamado “dia dos mortos”. A título de lembrança, é sempre oportuno recorrer-se a obras de Allan Kardec. Assim, na obra inaugural O Livro dos Espíritos há registros no item “Comemoração dos mortos. Funerais"1:

Perg. 320. Sensibiliza os Espíritos o lembrarem-se deles os que lhes foram caros na Terra? R – “Muito mais do que podeis supor. Se são felizes, esse fato lhes aumenta a felicidade. Se são desgraçados, serve-lhes de lenitivo.”

Perg. 321. O dia da comemoração dos mortos é, para os Espíritos, mais solene do que os outros dias? Apraz-lhes ir ao encontro dos que vão orar nos cemitérios sobre seus túmulos? R – “Os Espíritos acodem nesse dia ao chamado dos que da Terra lhes dirigem seus pensamentos, como o fazem noutro dia qualquer.”

a) Mas o de finados é, para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas? R – “Nesse dia, em maior número se reúnem nas necrópoles, porque então também é maior, em tais lugares, o das pessoas que os chamam pelo pensamento. Porém, cada Espírito vai lá somente pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.”

b) Sob que forma aí comparecem e como os veríamos, se pudessem tornar-se visíveis? R – “Sob a que tinham quando encarnados.”

Perg. 322. E os esquecidos, cujos túmulos ninguém vai visitar, também lá, não obstante, comparecem e sentem algum pesar por verem que nenhum amigo se lembra deles? Que lhes importa a Terra? R – “Só pelo coração nos achamos a ela presos. Desde que aí ninguém mais lhe vota afeição, nada mais prende a esse planeta o Espírito, que tem para si o Universo inteiro.”

Perg. 323. A visita de uma pessoa a um túmulo causa maior contentamento ao Espírito, cujos despojos corporais aí se encontrem, do que a prece que por ele faça essa pessoa em sua casa? R – “Aquele que visita um túmulo apenas manifesta, por essa forma, que pensa no Espírito ausente. A visita é a representação exterior de um fato íntimo. Já dissemos que a prece é que santifica o ato da rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o coração.”

No seu último discurso – Dia de Finados do ano de 1868 -, Kardec comenta: “Ofereçamos aos que nos são caros uma boa lembrança e o penhor de nossa afeição, encorajamentos e consolações aos que deles necessitem. Façamos de modo que cada um recolha a sua parte dos sentimentos de caridade benevolente, de que estivermos animados, e que esta reunião dê os frutos que todos têm o direito de esperar”2.

Entre centenas de manifestações espirituais, destacamos o alerta de Eurípedes Barsanulfo, no livro O Espírito da Verdade para nós, os encarnados, sobre os valores eternos: “O espírito deve ser conhecido por suas obras. É necessário viver e servir. É necessário viver, meus irmãos, e ser mais do que pó!”.3

“Viver e ser mais do pó” vem à tona em texto de Emmanuel, lembrando que “irmãos da Terra procuram a nós outros desencarnados, nas fronteiras de cinza, […] também nós, de coração reconhecido, suplicamos-te apoio em auxílio de todos eles”. E roga orações pelos quase mortos: “para todos os nossos irmãos que atravessam a experiência humana quase mortos de sofrimentos e agravos, complicações e problemas criados por eles mesmos, nós te rogamos auxílio e bênção!…”4

Registros espíritas como subsídios para nossas reflexões sobre o chamado “dia dos mortos”.

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos espíritos. FEB.

2) Kardec, Allan. Trad. Noleto, Evandro Bezerra. O Espiritismo é uma religião? Revista espírita. Dezembro de 1868. FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido; Vieira, Waldo. Espíritos diversos. O espírito da verdade. Lição no 12. FEB.

4) Xavier, Francisco Cândido; Espíritos diversos; Pires, Herculano. Na era do espírito. Cap. 21. GEEM.